Marcelle Azevedo
Tatiana Kelly Fidalgo
José Carlos Pettorossi Imparato
Atualmente, o Colar de Âmbar tem sido amplamente comercializado no mercado mundial como sendo um adereço com ação anti-inflamatória e analgésica, capaz de liberar ácido succínico quando em contato com a pele.
Sabe-se que o âmbar é uma resina fossilizada, substância orgânica, produzida a partir de pinheiros do norte da Europa, composto por carbono, hidrogênio, oxigênio e cerca de 8% de ácido succínico, que é um dos elementos associados ao processo de cicatrização1. Além desses componentes, também possui ferro, potássio e sódio que ajudariam nesse “processo”.
No passado ele era transformado em joias e utilizado muitas vezes, como moeda de troca. Os antigos romanos usavam o âmbar do Báltico para se proteger contra doenças, e acreditava-se que ajudava a curar dores de garganta, problemas de ouvido, olhos e problemas estomacais. Muitos acreditavam ainda que seu uso também seria capaz de evitar a loucura. Os persas derreteriam o âmbar em um líquido para transformá-lo em um xarope para prevenir e cessar os espasmos, enquanto os alquimistas da Idade Média tratariam a icterícia com as propriedades do ácido succínico.
Na odontologia a crença surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, onde há relatos do uso do âmbar pelos alemães, para minimizar a dor após a fratura dos dentes1. Partindo desta premissa, surgiu a “ideia” da confecção de um colar feito de contas de âmbar báltico, para alívio dos sinais e sintomas provenientes da erupção dentária em bebês. O âmbar do Báltico também tem sido usado para combater o sobrenatural. Reivindicações em torno da eficácia e mecanismo de ação por essas contas vão desde o místico, como “bio-transmissor”, ao pseudocientífico, como “eletromagnético” 1-3.
Analisando a estrutura química verificamos que o ácido succínico está presente, principalmente, conjugado via ligações éster com o grupo hidroxila de outros compostos 4 através da reticulação destes compostos desempenhando um papel estrutural no âmbar do Báltico 5. Por isso é difícil conceituar como o ácido succínico poderia ser liberado das joias de contas de âmbar para exercer tais funções analgésicas e anti-inflamatórias. Nesse sentido, alguns questionamentos deveriam ser feitos antes de sua ampla utilização, como:
1) O ácido succínico seria realmente capaz de ser liberado em contato com a pele?
2) Ele seria capaz de ser absorvido pela pele?
3) Nas quantidades liberadas ele seria capaz de causar efeito analgésico?
Para essas perguntas ainda não existe resposta, apesar de que pela análise da sua composição química, a resposta mais provável seja “NÃO” 6.
O colar de âmbar, além de não oferecer benefício, pode acarretar riscos de estrangulamento e asfixia para a criança que o utiliza. O colar envolto ao pescoço pode eventualmente apertar a garganta da criança a ponto de impedir a passagem de ar ou ainda, as contas de âmbar podem se soltarem oferecendo o risco da criança as deglutir e aspirar, como já foi reportado na literatura. 7, 8 Infelizmente, já existem registros de morte e asfixia em bebês por conta do uso do colar. Pelas razões apresentadas, seu uso ou uso de braceletes ou tornozeleiras de âmbar em crianças deve ser desencorajado por profissionais da saúde9.
Referências:
1. Amber Artisans. The Baltic âmbar education room . Baltic amber a natural healing medicine. 2022. Childrens Baltic Amber Necklaces and Bracelets Shop. (amberartisans.com); (accessed 9th Aug 2022)
2. Holist Baby. Teething made easy. Amber info. 2022 Quick Facts - Teething Made Easy (accessed 9th aug 2022)
3. Debora Slings. Colar de âmbar: Benefícios para bebês, crianças e adultos. 2022. Colar de âmbar: benefícios para bebês, crianças e adultos - Deborah Slings ;(accessed 2022 9th August 2022).
4. Stout EC, Beck CW, Kosmowska-Ceranowicz B. 1995. In: Anderson kb, crelling jc amber, resinite, and fossil resins. Washington, DC: American Chemical Society. p. 130–148.
5. Poulin J, Helwig K. 2014. Inside amber: The structural role of succinic acid in class ia and class id resinite. Anal Chem. 86(15):7428-7435.
6. Pasternak, N. Colar de âmbar para bebês. Perigoso e inútil. 2018. (accessed 14th September 2022); Colar de âmbar para bebês: perigoso e inútil | Questão de Ciência (revistaquestaodeciencia.com.br)
7. Nissen MD, Lau ETL, Cabot PJ, Steadman KJ. 2019. Baltic amber teething necklaces: Could succinic acid leaching from beads provide anti-inflammatory effects? BMC Complement Altern Med. 19(1):162.
8. Soudek L, McLaughlin R. 2018. Fad over fatality? The hazards of amber teething necklaces. Paediatr Child Health. 23(2):106-110.
9. Cota ALS, Silva EA, Freitas NBBS, Bisneto JLSI, Buriti GM, Valente JQLM, Nemezio MA, . 2022. Use of the amber teething necklace by the child population: Risks versus benefits. Revista Paulista de Pediatria 40:1-6.
|